A direção da Ford na América do Sul manteve ontem a posição de não se pronunciar sobre a decisão da matriz.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, prevê que, além da fábrica de veículos, em São Bernardo do Campo, o Estado de São Paulo também corre o risco de perder para a Bahia a produção de motores da montadora. Esse é um ponto, acredita o dirigente, que pode sensibilizar o governador João Doria (PSDB), a se esforçar para tentar reverter a decisão da direção mundial da Ford de encerrar as atividades no Estado este ano.
Hoje, a Ford produz motores em Taubaté, interior de São Paulo, e em Camaçari, na Bahia, onde também fabrica automóveis. Para Santana, a decisão de interromper a produção de veículos em São Bernardo do Campo, anunciada pela montadora americana na terça-feira, leva a crer que a linha de motores no interior paulista também corre o risco de ser interrompida.
Sob essa ótica, já que Camaçari conta com a linha de motores, qual seria o sentido, afirma o dirigente, de manter a linha do mesmo produto numa região distante, abastecendo a fábrica baiana? Quando a unidade do ABC for fechada, até o fim deste ano, a fábrica de Camaçari passará a ser a única linha de produção de veículos da companhia no Brasil.
A direção da Ford na América do Sul manteve ontem a posição de não se pronunciar sobre a decisão da matriz de interromper a produção de automóveis e caminhões no ABC.
O risco de a unidade de Taubaté também fechar pode trazer preocupação adicional para o governo paulista, segundo Santana. Doria chamou a direção da Ford na América do Sul para uma reunião hoje, às 10 horas no Palácio dos Bandeirantes, da qual também participará o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB).
Além de contar com o apoio dessa intervenção do governo paulista, Santana diz que a direção do sindicato se prepara para pedir uma audiência com o governo federal. Para o sindicalista, a postura liberal do governo de Jair Bolsonaro pode “dificultar esse tipo de conversa”. “Mas trata-se de um estilo e isso não quer dizer que não possamos dialogar com o governo federal”, afirma.
Santana, um metalúrgico de 57 anos que está na presidência do sindicato desde julho de 2017, acredita que a Ford pode voltar atrás. “Quando negociávamos com a Volks novos investimentos para São Bernardo, a direção da empresa também falava em fechar a fábrica”, destaca.
O dirigente começou o dia, ontem, no comando de assembleias nas portas de fábricas de duas outras montadoras de sua base – Scania e Mercedes-Benz. Nesse caso o tema foi a reforma da Previdência. Ele iria participar do ato contra a reforma na Praça da Sé. Mas decidiu ir para a Ford, onde reuniu-se com representantes do comitê sindical, a representação dos trabalhadores naquela fábrica. Ali, o grupo começou a discutir os próximos passos. Haverá mais reuniões assim, disse ele, até terça-feira, quando a direção da entidade voltará a reunir os empregados da Ford em assembleia.
Ontem não houve trabalho na montadora. Por recomendação do próprio sindicato, os empregados foram para casa, na tarde de terça-feira, depois de serem informados, pelos sindicalistas sobre a decisão da companhia de encerrar as atividades naquela fábrica depois de 52 anos. E foram convocados a voltar na terça-feira para nova assembleia.
“Por uma questão de responsabilidade achamos que manter os operários distantes do trabalho naquele momento era a decisão mais acertada. Depois de uma informação dessas, o trabalhador pode se distrair e se machucar numa prensa, por exemplo”, destacou o dirigente.
A paralisação não representa uma greve. Segundo Santana, já faz um tempo que a Ford reduziu a jornada naquela fábrica para três ou quatro dias por semana.
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